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domingo, 28 de dezembro de 2014


PT pressiona por mais espaço à esquerda no novo ministério

27/12/2014 17:01
Por Redação - de Brasília

A presidente Dilma RousseffA presidente Dilma Rousseff
A presidente Dilma Rousseff tem percebido uma ação mais
incisiva do PT à esquerda

Longe de representar uma divisão na legenda que conquistou o Palácio do Planalto, nas últimas eleições, a formação do ministério da presidenta reeleita, Dilma Rousseff, tem levado o Partido dos Trabalhadores (PT) a uma reflexão mais acurada de seu papel no conjunto de forças políticas que integrarão a base aliada ao governo, a partir do dia 1º de Janeiro. Em uma análise, o jornalista Breno Altman, diretor de Redação do site Opera Mundi, após considerar a fragilidade do apoio parlamentar à presidenta, aponta a existência de uma clara tentativa de um novo golpe midiático:
“Importantes veículos de comunicação apostam abertamente em transformar a investigação na Petrobrás em carro-chefe de operação que leve à paralisia e ao desgaste da presidente, se possível a seu impedimento”, afirma Altman.
A nova composição do ministério e a disputa por espaço político também guardam novos episódios nos quais quem ganhou e quem perdeu, nas urnas, buscam definir, com nitidez, o contorno de suas aspirações. O PT fluminense, que já indicou o deputado Alessandro Molon à secretaria de Comunicação Social, também teria levado o nome do deputado Chico D’Angelo para um posto ainda não definido na Esplanada dos Ministérios.
Lula distante
Enquanto descansa no litoral baiano, a presidenta Dilma tem ouvido, cada vez mais distante, a voz rouca de seu mentor político. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, diferentemente de 2010, quando fez questão de participar, ativamente, da montagem do governo, tem deixado mais espaço livre para sua pupila. Lula, com todas as letras, afinou seu discurso na direção da esquerda, distanciando-se dos acordes liberais que ora se ouvem nos ministérios da Fazenda, com a indicação de Joaquim Levy – de voto declarado aos tucanos – e Kátia Abreu (PMDB-TO), a senadora do agronegócio. Na dúvida, Dilma deixou para segunda-feira o anúncio dos ministeriáveis petistas.
Em novembro, logo após o fechamento das urnas, Dilma consultou Lula, que emplacou Nelson Barbosa no Ministério do Planejamento, mas depois seguiu seu caminho, após engolir a escolha de Levy.
Ex-líder sindical, Lula tem recebido frequentes visitas de integrantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT), maior central sindical do país, que organiza o ato político em Brasília, para o dia da posse da presidente Dilma Rousseff. Outras centrais sindicais e movimentos sociais, como os sem-terra do MST, já confirmaram presença.
A manifestação já é um ato concreto da “reorganização” das esquerdas, defendida pelo ex-presidente. Os ativistas da CUT e dos demais movimentos sociais; além de comemorar a vitória, repudiam as tentativas de desestabilizar o governo eleito.
O ato público tende a cobrar coerência da presidenta Dilma com o seu posicionamento durante a campanha:
“Reiteramos nossa posição contra propostas de ajuste fiscal contrárias ao programa que venceu as eleições presidenciais”, diz o documento que convoca para a manifestação no dia da posse. A CUT também reprovou a elevação da taxa de juros adotada pelo Banco Central, como “ineficaz” para o combate à inflação.
Em um vídeo, distribuído pelas redes sociais, Lula defendeu a reforma política como fator imprescindível, a começar pelo fim da lista de partidos e do financiamento público. Para ele, nos próximos quatro anos, é essencial ainda reorganizar a base de aliança do governo, que sofreu perdas desde que chegou ao poder, com setores mais à esquerda da sociedade.
– Nós temos que tirar as lições da dureza desse processo eleitoral. Nós temos que saber que uma próxima eleição vai ter que se dar numa outra lógica política, porque a reforma política tem que permear a vontade do PT, a vontade dos partidos que querem mudar a lógica política desse país – disse o ex-presidente.
Pacificação
Ainda segundo o artigo do jornalista Breno Altman, “abundam analistas e protagonistas elogiando as escolhas da presidente para o ministério, as medidas anunciadas nas últimas semanas e o discurso que tem predominado desde a reeleição. A ideia-força que atrai estes aplausos é a da pacificação. Seria lance político de brilhantismo um conjunto de concessões destinadas a desarmar o clima de enfrentamento da disputa presidencial”.
“O portfólio de providências inclui, entre outras iniciativas, aumentos seguidos da taxa de juros, nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda, oficialização de ferrabrás do ruralismo para a Agricultura, abertura prevista de capital da Caixa Econômica Federal e crescimento dos agrupamentos centristas no novo gabinete, com esvaziamento relativo do PT. Para muitos, tiro certeiro: estariam sendo criadas as condições de repactuação com as classes dominantes, refazendo alianças e isolando eventuais segmentos golpistas”, acrescentou.
Na análise do jornalista, “os partidos de esquerda não terão, no Congresso a ser empossado daqui a dois meses, mais do que um quinto das cadeiras. Na outra ponta, as legendas mais reacionárias ampliaram fortemente sua presença. A base de apoio parlamentar está dividida e desorganizada. Porção relevante do centrismo, especialmente abrigada no PMDB, apoiou o PSDB nas eleições presidenciais e está decidida a fazer de Eduardo Cunha o novo presidente da Câmara dos Deputados, associada à oposição de direita”.
“A leitura aparentemente predominante, em círculos governistas, é que estes e outros fatores seriam suficientes para recomendar uma estratégia-violino: venceu-se com a mão esquerda, mas para governar torna-se necessário tocar com a mão direita; acredita-se, em contrapartida, que os inimigos desistam de assaltar o instrumento confiado às forças progressistas pelo voto popular. Na pior das hipóteses, ganharia-se tempo até os bons ventos da economia mundial voltarem a soprar, restaurando a hipótese de seguir adiante com as melhorias sociais sem radicalização do conflito distributivo”.
O articulista, porém, cita “duas ordens distintas de problemas, nesta formulação”.
“A primeira reside em saber se é possível conciliar estas concessões, de magnitude ainda pouco clara, e mesmo que provisórias, com o processo iniciado em 2003, cujos fundamentos são a construção do Estado de bem-estar, a distribuição de renda e a consolidação do mercado interno de massas como força propulsora do desenvolvimento. Se a resposta for negativa, cresceriam os riscos do petismo cair em cenário de paralisia ou retrocesso nas conquistas sociais. As consequências políticas, como não é difícil prever, poderiam ser dramáticas”, disse.
Altman afirma, ainda, que “vale lembrar que as poderosas realizações dos últimos 12 anos foram incapazes de evitar que se criasse clima para manifestações de protesto, em junho de 2013, e de oferecer tranquilidade eleitoral no último pleito. Caso a alternativa ao esgotamento do primeiro ciclo de reformas seja, mesmo moderadamente, na direção oposta das políticas até aqui praticadas, haveria notáveis possibilidades de esgarçamento da confiança no projeto encabeçado pelo PT”.
Capitulação
A segunda “ordem de obstáculos”, questiona o diretor de Redação, “é ainda mais perigosa: e se o apaziguamento fracassa?”
“O núcleo duro das classes dominantes, afinal, já deixou bastante claro que as reformas de cunho orçamentário, que não alterem estruturas de poder e riqueza, são as fronteiras de sua tolerância natural. Para além disso, somente se oligarquias do capital forem subjugadas ou derrotadas. No mais, a história está cheia de exemplos sobre como pode ser inócua e traiçoeira, em determinadas situações políticas, a prevalência da conciliação sobre o enfrentamento”, alerta.
Altman cita o ex-presidente Getúlio Vargas, que teve seu nome inscrito “entre conciliações malogradas”:
“Isolado no parlamento, compôs gabinete de centro-direita para neutralizar a oposição golpista. A manobra foi um retumbante fracasso. Perdeu apoio popular, ao aplicar parte do programa liberal de seus adversários, e viu-se no dever de entregar a vida, só assim reavivando o entusiasmo das ruas, para impedir a morte de seu projeto político”.
A disposição com que Dilma marcha à direita, afirma o jornalista, deixa claro “que forças de esquerda e movimentos sociais, com papel decisivo no segundo turno das eleições, estão perplexos e irritadiços com as decisões tomadas pela presidente. Seria ilusão acreditar que se possa manter a simpatia deste lado da sociedade apenas com frases e informações alarmistas sobre a ameaça de tudo ficar pior, se a presidente não receber solidariedade incondicional diante da escalada conservadora”.
“Caso predomine sentimento de frustração e apatia nestes setores, que constituem a alma mater do petismo e da esquerda, quem estará ao lado do palácio nas horas difíceis que virão?”, pergunta-se o jornalista
“Que forças impediriam a direita de querer transformar a dieta de concessões em regime de capitulação? Há forte expectativa, nestas circunstâncias, para o discurso de Dilma no próximo dia 1º de janeiro. A pergunta que não pode calar: com qual mão ela carregará o arco do violino ao subir no parlatório de sua segunda posse e dali em diante?”, conclui.

sábado, 27 de dezembro de 2014

Líder petista questiona o papel da esquerda no governo Dilma

26/12/2014 12:47
Por Redação - de São Paulo

Pomar é um dos principais líderes do PT
Pomar é um dos principais líderes do PT
Em artigo publicado nesta sexta-feira, intitulado Eu não vou à posse da Presidenta Dilma – O novo ministério de Dilma e o papel da esquerda e do PT, o historiador, mestre e doutor em História Econômica Valter Pomar disserta sobre o momento de desconfiança em que vive a presidenta Dilma Rousseff, recém-eleita, junto à militância que, na reta final da campanha, fez a diferença e a levou à vitória, nas urnas, por apenas 3,4 milhões de votos (3,28 pontos percentuais).
“O ministério até agora divulgado pela presidenta Dilma Rousseff provocou reações variadas entre os que apoiaram sua reeleição. Há desde elogios rasgados, passando por críticas ponderadas, até ataques duros contra certas escolhas e/ou contra o conjunto da obra”, afirma Pomar, no artigo publicado em seu blog http://valterpomar.blogspot.com.br/.
O historiador e líder petista afirma, ainda, que “entre estes últimos, há variadas doses de surpresa e decepção com o espaço ministerial ocupado por quadros conservadores, seja da direita oposicionista (como Levy), seja da ala direita da coligação que elegeu Dilma (como Kassab e Kátia Abreu). Desconheço o tamanho de cada grupo (elogios, críticas, ataques), mas uma coisa é certa: se entre o eleitorado medido pelas pesquisas de opinião cresceu a confiança na presidenta, entre a militância que fez sua campanha cresceu a desconfiança”.
Leia, a seguir, os principais trechos do artigo:
“Sem o contraponto da quase inexistente mídia petista, a desconfiança é adubada pelo oligopólio da comunicação, que torce por uma presença minguada na posse da presidenta. Seja como for, o ministério até agora divulgado não constitui propriamente uma surpresa, ao menos para quem leva em conta a correlação de forças, a estratégia majoritária na esquerda brasileira e o estilo da presidenta.
“Vencemos as eleições presidenciais de 2014. Mas, comparado a eleições anteriores, recuamos. O mesmo ocorreu nas eleições para governos estaduais e para o Congresso nacional. A correlação de forças institucional é pior, hoje, do que em 2003. E desde então nossa capacidade de organização, de mobilização e de comunicação não cresceu mais do que cresceram as de nossos inimigos.
“Apesar disto, seria totalmente possível compor um ministério mais parecido com a campanha do segundo turno e menos parecido com a “base” do governo no Congresso nacional.
“Entretanto, se não estamos falando apenas de nomear ministros provenientes da ala esquerda da coligação que elegeu Dilma, se estamos falando também e principalmente de aplicar políticas governamentais mais à esquerda, isto significaria um segundo mandato Dilma que sofreria uma resistência ainda maior por parte do oligopólio da mídia, do grande capital e da oposição de direita.
“Desde 2003, a resistência da oposição vem num crescendo. Nossos governos realizam políticas públicas, mas enfrentam uma oposição de direita cada vez mais radical e cada vez mais massiva, que atua como se estivéssemos fazendo reformas estruturais ou ameaçando com uma revolução.
“Portanto, caso o segundo mandato Dilma realmente venha a trilhar o caminho das reformas estruturais, enfrentará uma resistência muito maior do que a que já enfrenta hoje.
“Para enfrentar e derrotar esta resistência, dependeremos de uma mobilização também muito superior àquela que conseguimos, por exemplo, no segundo turno das eleições presidenciais de 2014.
“Esta mobilização superior também é possível de alcançar, sempre e quando os partidos e movimentos sociais que integram o campo democrático e popular sejam capazes não apenas de aprovar resoluções mais radicais, mas também sejam capazes — ao longo dos próximos quatro anos – de fazer de maneira organizada aquilo que fizemos de maneira em grande medida espontânea nos meses de setembro e outubro de 2014.
“Entretanto, isto significa que tais partidos e movimentos, especialmente o Partido dos Trabalhadores, têm que mudar a estratégia adotada desde 1995, estratégia que num certo sentido foi “radicalizada” pela Carta aos brasileiros em 2002 e ainda mais “radicalizada” pela dupla Palocci-Meirelles em 2003-2004.
“Antes de 1995, nossa estratégia apontava que para transformar o Brasil, seria necessário combinar ação institucional, mobilização social e organização partidária, operando uma verdadeira “revolução cultural” no modo de fazer politica das classes trabalhadoras. Mas a partir de 1995 ocorreu uma hipertrofia da ação institucional, em detrimento dos outros componentes da estratégia.
“Antes de 1995, nossa estratégia supunha articular a luta por reformas estruturais democráticas e populares com a luta pelo socialismo. A partir de 1995, o objetivo socialista e as reformas estruturais foram cedendo lugar às políticas públicas. Necessárias e importantes, mas que como estamos confirmando hoje são insuficientes não apenas para transformar o Brasil, mas também insuficientes para desmontar as bases de poder de nossos inimigos.
“Antes de 1995, nossa estratégia apontava o conjunto do grande capital como inimigo estratégico. A partir de 1995, parcelas do grande capital e de seus representantes políticos passaram a ser tratados como aliados. A Carta aos brasileiros e o período Palocci-Meirelles foram além, com suas concessões ao grande capital financeiro e transnacional.
“Os defensores da estratégia de 1995 argumentam que ela foi fundamental para vencer as eleições presidenciais de 2002. Podemos concordar ou não com esta afirmação. A esquerda petista discorda. Mas, hoje, doze anos depois, não é preciso ser da esquerda petista para perceber que a estratégia de 1995 é, ao menos em parte, responsável por não termos conseguido fazer nenhuma reforma estrutural.
“Além disso, a estratégia de 1995 tem “efeitos colaterais” que estão ameaçando nossas vitórias institucionais, nosso acúmulo social, nossa atuação partidária e até mesmo nossa capacidade de fazer políticas públicas. Aliás, a estratégia de 1995 nos levou, desde então e até agora, a geralmente preferir fazer um acordo ruim a comprar uma boa briga.
“Assim como outro ministério é possível, assim como outra correlação de forças é possível, outra estratégia é possível e urgente.
“Mudar a estratégia não é apenas nem principalmente aprovar outra resolução ou eleger outra direção. Mudar a estratégia é corrigir o comportamento geral do Partido em todas as dimensões da luta de classes e no seu funcionamento interno. Portanto, um processo trabalhoso e demorado. Cujos alicerces precisam ser lançados nos debates do 5º Congresso do Partido dos Trabalhadores.
“Portanto, das três variáveis que explicam (mas não justificam) o ministério até agora nomeado, podemos e devemos mudar duas: a correlação de forças e a estratégia majoritária na esquerda brasileira. Mas isto exigirá um grande esforço, envolverá uma boa dose de risco e demandará certo tempo.
“Talvez por isto muita gente esperasse que a presidenta Dilma liderasse este processo, seja para facilitá-lo, seja para apressá-lo.
“Obviamente, quem esperava isto, sofreu uma decepção em dose tripla com o ministério até agora anunciado. Pois ele deixa claro que, na melhor das hipóteses, a presidenta não se dispõe a comandar o processo de “retificação” da estratégia e de alteração na correlação de forças.
“Aliás, a própria presidenta já deixou claro não ser presidenta do PT, nem da esquerda brasileira, mas sim presidenta do Brasil. Com isto ela deixou claro como enxerga seu papel e que não compartilha a lógica (que a direita denomina caricaturalmente como “bolivariana”) segundo a qual caberia ao chefe do governo nacional protagonizar o processo de mudanças estratégicas no país.
“Gostemos ou não disto, não há porque esperar que ela faça o que não se propõe a fazer, o que não foi eleita para fazer e o que ela provavelmente não saberia fazer.
“Isto posto, quem deseja um segundo mandato Dilma superior ao primeiro não deve esperar que a iniciativa parta do governo ou da presidenta.
“Para criarmos as condições para um segundo mandato superior ao primeiro, devemos nos concentrar em mudar a estratégia da esquerda e em mudar a correlação de forças na sociedade, ao mesmo tempo em que seremos forçados a disputar os rumos do governo Dilma.
“Disputar os rumos do governo Dilma inclui dizer clara e publicamente à presidenta que seu ministério está aquém do necessário e do possível. Mas inclui, principalmente, organizar nossa base social para derrotar não apenas a direita oposicionista, mas também a direita governista. Até porque não há concessão que faça o lado de lá aceitar nossa presença na presidência da República.
“Em resumo, estão corretos aqueles que criticam o peso que a direita possui no ministério anunciado até agora pela presidenta Dilma Rousseff. Mas é preciso converter esta crítica em capacidade de organização, mobilização e comunicação da esquerda política e social. E, no caso dos que somos petistas, é preciso fazer com que esta crítica se converta em uma nova estratégia e em um novo comportamento partidários.
“Por tudo isto, como não poderei comparecer pessoalmente à esta posse da presidenta Dilma Rousseff, além de contribuir para a presença de nossa militância, farei como a esmagadora maioria dos eleitores e militantes da campanha à reeleição: erguerei um brinde ao êxito de novo governo e outro brinde à continuidade da nossa luta por um segundo mandato superior, no rumo das reformas estruturais e do socialismo.
“Até porque não basta ganhar, tem que levar”, conclui.